sábado, 4 de maio de 2013

Orgulho do que (não) sou

Ultimamente, a onda do "ter orgulho de si" entrou na moda, mas o pessoal tem confundido tanto as coisas que eu nem sei como começar. É "orgulho gay" pra cá, "orgulho hétero" pra lá, "sou + Jesus", "meu black é brasileiro" e "vou falar com a minha mãe". Toddynho pra todo mundo.
É importante, antes de tudo, estabelecer a diferença entre "ser" e "escolher ser":
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NENHUMA.
Que surpresa, hein? Pois é, se a pessoa é negra ou se ela escolhe a cultura black por gosto, nada muda. Se ela nasce cristã e escolhe ser atéia, nada muda. Fórmula simples.
Partindo dessa premissa, acho pertinente pensarmos no seguinte: existe uma palavrinha com um significado muito bacana, utilizada como argumento pra tudo e, além do mais, é um direito. Já ouviram falar de liberdade? Só pra lembrar:

LI-BER-DA-DE: sf. Faculdade de cada um se decidir ou agir segundo a própria determinação.

Vemos, então, que a liberdade é um direito de CADA UM, é algo individual, portanto, as escolhas de uma pessoas dizem respeito apenas à ela mesma. Fácil, não? Entretanto, pouquíssimas pessoas parecem saber o que é a liberdade, como lidar com ela e, talvez o mais importante, o que fazer com ela. Vamos aos exemplos (hoje eu tô didática)!
Exemplo 1: Você é gay. Nasceu assim/escolheu ser gay. Você é muito feliz com a sua condição. Aí, comete atentado ao pudor, xinga todo mundo, faz escândalo pra mostrar sua opção sexual e vai na "Parada Gay" pra lutar contra o preconceito, dançar, pular, curtir e dizer que tem orgulho de ser gay.
Mas acha ofensivo o cara que é hétero ter orgulho de ser o que é. Pense bem: você quer ser aceito como é, tem orgulho, e ninguém mais pode ter também? Os limites são bem claros, só não vê que não quer. Ter orgulho de ser hétero não implica em ser homofóbico - o que não justifica o cara usar isso pra ofender homossexuais.
Exemplo 2: Você é evangélico. Nasceu em família evangélica ou se converteu. É feliz, em nome de Jesus. Adora ir ao culto, ler a bíblia/evangelho, segue tudo bonitinho, como Deus mandou. Aí, discrimina todo mundo, manda pro inferno se faltar ao culto, força qualquer pessoa a seguir sua religião e não reconhece ninguém que não a siga.
Esqueceu o que é liberdade, que o Estado é laico, que estamos em uma sociedade completamente diferente daquela em que, supostamente, Jesus nasceu e morreu e que, se realmente seguisse os ensinamentos divinos, lembraria que o amor e o respeito estão acima de tudo. Intolerância religiosa é uma das coisas mais nojentas do universo! Conseguem englobar tudo numa discriminação só.
O pior de tudo, acredito, é o simples fato de se auto-discriminar. Gênio, se você mesmo se rotula, já dá o primeiro passo para o preconceito; isso, nada mais é do que se diferenciar e, inconscientemente, querer impor a sua escolha às demais.
Falar disso nos leva a outro tópico: os grupos defensores de causas. Sua causa não é melhor que a minha. Ponto. Simples assim. Se eu escolhi ser atéia, cague para mim na sua missão de evangelizar o mundo e defender o cristianismo ou seja o que for. Se sou hétero, esquece de mim se eu mesma não aderir à causa gay. Se eu não sou negra e não acho que você precisa ter orgulho disso, não significa que eu sou racista, então não me venha com direitos humanos. Do mesmo modo, se eu não sou feminista, não enfie as cinzas do seu sutiã na minha bebida. Defender alguma coisa na sua vida é muito bacana, mas exageros são um saco.
O que eu quero dizer com tudo isso, é que não precisamos ter orgulho de nada por sermos iguais em tudo. Agora, o orgulho não está proibido, é só não esquecer que estamos falando de liberdade e não de abuso. Ter o direito de poder ser orgulhoso da sua cor, opção sexual ou religião, não é o mesmo que impor uma escolha ou característica a todos. Quer ter orgulho de ser negro? Não use isso pra se beneficiar. Quer ter orgulho de ser branco? Ótimo pra você também, mas não vale ser preconceituoso. Quer ser feminista? Não deturpe toda e qualquer situação pra dar visibilidade à sua causa. Sejamos coerentes, o mesmo que vale pra mim, vale pra você.